Dez mil bitcoins por duas pizzas familiares. Pode parecer uma anedota, mas não é. Esta é considerada a primeira transação de Bitcoin na história. Conhecido como o “Bitcoin Pizza Day”, o dia 22 de maio de 2010 marcou a primeira vez em que a criptomoeda Bitcoin, que chegou a estar avaliada em 69 mil dólares a unidade (sim, a unidade!), foi usada para comprar algo tangível.
Em 2010, Laszlo Hanyecz, um programador da Flórida, nos Estados Unidos, anunciou no BitcoinTalk, um reputado fórum na internet, que queria comprar duas pizzas e pagaria 10 mil bitcoins a quem as entregasse. O problema é que, até então, esta criptomoeda não tinha um valor correspondente em dólar. Ou em qualquer outra moeda.
O estudante Jeremy Sturdivant aceitou o desafio, comprou duas pizzas da rede Papa John’s, por cerca de 25 dólares cada, e mandou entregar na casa de Hanyecz. Em troca, Sturdivant recebeu as 10 mil bitcoins.
Os valores das pizzas e alguns detalhes da história variam conforme as publicações, mas facto é que, se ainda estiver de posse das suas bitcoins, o jovem estudante teria hoje quase 300 milhões de dólares. Nada mau para um investimento de 50 dólares.
Em novembro do ano passado, quando o preço desta moeda digital atingiu o seu recorde e chegou a quase 69 mil dólares, Sturdivant teria projetado o seu investimento para os 700 milhões.
A história das criptomoedas começou no final dos anos 80. A ideia era criar uma moeda que pudesse ser enviada de forma não rastreável e de uma maneira que não envolvesse as entidades centralizadas, basicamente os bancos. Em 1995, o criptógrafo americano David Chaum implementou um dinheiro eletrónico anónimo denominado Digicash, uma forma de pagamento que exigia um software de utilizador para levantar dinheiro de um banco e designar chaves criptografadas específicas antes de serem enviadas a um destinatário. Esse avanço da criptografia de chave pública e privada permitia que os pagamentos eletrónicos não fossem rastreáveis pelo banco emissor, pelo governo ou por terceiros. A Digicash terá sido, assim, o predecessor das moedas digitais. O Banco Mark Twain, mais tarde adquirido pelo banco Mercantile, localizado no Missouri, era o único banco dos EUA a suportar sistemas DigiCash. Na Europa, o Deutsche Bank, com sede na Alemanha, foi o segundo banco de apoio dos sistemas DigiCash. Dizem os especialistas que, provavelmente, esta moeda terá nascido cedo demais para o seu tempo. Foi à falência em 1998.
Entretanto, em 31 de outubro de 2008, Satoshi Nakamoto publicou um documento chamado Bitcoin – A Peer to Peer Electronic Cash System, no qual descrevia a funcionalidade desta rede blockchain. Satoshi começou formalmente a trabalhar no projeto bitcoin a 18 de agosto de 2008, quando comprou o Bitcoin.org. Estava assim lançada a história das moedas digitais.
Satoshi Nakamoto minerou o primeiro bloco da rede bitcoin a 3 de janeiro de 2009. Este primeiro bloco de 50 moedas digitais, agora apelidado de Genesis Block, quase não tinha valor nos primeiros meses da sua existência. Seis meses depois, em abril de 2010, o valor de uma Bitcoin era inferior a 14 cêntimos de dólar. Em maio, a tal famosa pizza foi comprada e, no início de novembro, subiu para 36 cêntimos.
Embora ainda não valesse muito, o Bitcoin estava a mostrar que, afinal, tinha valor no mundo real. Em fevereiro de 2011, subiu para 1,06 dólares antes de voltar para 0,87 cêntimos. Na primavera, em parte devido a uma história da Forbes sobre a nova “moeda criptográfica”, o preço disparou. Do início de abril ao final de maio, o custo de uma Bitcoin subiu de 86 cêntimos de dólar 8,89 dólares.
E a tendência de subida continuou. Os preços da Bitcoin aumentaram constantemente ano após ano, passando de 434 dólares em janeiro de 2016 para 998 dólares em janeiro de 2017. Em julho desse ano, uma atualização de software para Bitcoin foi aprovada com a intenção de oferecer suporte à Lightning Network, bem como melhorar a escalabilidade.
Em agosto, a Bitcoin estava a ser negociada a cerca de 2700 dólares e, em 17 de dezembro de 2017, atingiu um recorde de pouco menos de 20 mil dólares.
Durante esse mesmo período, um novo projeto de blockchain chamado Ethereum causou burburinho, tornando-se na segunda criptomoeda no mercado. Basicamente, blockchain é uma espécie de sistema compartilhado e imutável que facilita o processo de registo de transações e rastreamento de ativos numa rede. Este projeto trouxe contratos inteligentes para as criptomoedas, abrindo uma ampla gama de casos de uso em potencial, gerando mais de 200 mil projetos diferentes. Hoje, são várias as blockchains que competem com a Ethereum, como a Cardano ou a Tezos, e o mundo das criptomoedas continua a expandir-se e crescer em valor de mercado.
Atualmente, existem 8 mil criptomoedas diferentes no mercado. Em 2021, as empresas que negoceiam criptomoedas avançavam que os investidores demonstravam particular interesse pelas criptomoedas Ethereum, Bitcoin, Ripple, Litecoin e BitcoinCash. Também a Cardano passou a revelar-se um ativo de grande popularidade.
Ao contrário da ideia amplamente disseminada de que a atividade de investimento em criptomoedas é uma arena só dos jovens, dados indicam que a idade média dos investidores em criptomoedas está em linha com a idade dos investidores em ativos tradicionais, independentemente da classe de ativos com que iniciou a sua jornada de investimento. Os investidores em criptomoedas registados vão dos 18 aos 89 anos de idade, provando que não há uma idade melhor do que outra para investir em criptomoedas.
Os dados divulgados por algumas casas de transações revelam ainda que, do universo de mulheres investidoras que negoceiam criptomoedas, a maior percentagem está localizada na Roménia. Em Portugal, essa percentagem desce para os 10,5%, ainda assim acima da média global de 9,6%.
A análise indica que é nos países da Europa ocidental onde se registam os maiores níveis de popularidade das criptomoedas. Em Portugal, em 2021 36,3% dos investidores inscritos na plataforma da corretora investiram em criptomoedas, ficando somente atrás da República Checa (41,2%) e de Espanha (37,7%).
E para quem acha que tudo isto não é suficientemente real, em maio deste ano foi comprada, em Braga, a primeira casa com transação 100% cripto. Trata-se de um apartamento T3 em Braga que foi comprado por três bitcoins, ou seja, cerca de 110 mil euros. Isto quer dizer que pela primeira vez em Portugal e na Europa, foi transacionada uma casa só com criptomoedas sem ser necessária qualquer conversão para euros. A escritura desta casa foi assinada na Póvoa de Varzim, distrito do Porto, numa transação realizada totalmente em criptomoedas. Com o novo regulamento da Ordem dos Notários lançado no mês passado, já é possível realizar uma operação 100% cripto. Como? Mediante uma permuta: o comprador entrega a sua criptomoeda ao vendedor e há uma troca do dinheiro digital pelo direito ao imóvel. Note-se que, antes deste regulamento, na hora de comprar casa era necessário primeiro converter as criptomoedas para euros para realizar a operação, descreve a plataforma Idealista, especializada no negócio imobiliário.
Mas este é apenas um dos exemplos. Existem papelarias, lojas de informática, restaurantes, hotéis e até lojas a vender bicicletas que já aceitam Bitcoin como método de pagamento. Mas há mais. A Gucci, por exemplo, anunciou um projeto piloto no qual os clientes poderão pagar com criptomoeda nas lojas em Nova York, Los Angeles, Miami, Atlanta e Las Vegas já a partir do final de maio. Porque estar na moda é usar criptomoedas.
Fonte: observador.pt
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