Coldwell Banker

Relatório do primeiro semestre do imobiliário português

Written by geral | Jun 23, 2025 8:00:00 AM

 

O mercado imobiliário português atravessou o primeiro semestre de 2025 com indicadores positivos, apesar de alguma apreensão face a uma conjuntura internacional instável. O setor manteve-se dinâmico e atrativo, impulsionado por melhorias macroeconómicas e um interesse contínuo por parte de investidores estrangeiros, aguardando o desenrolar das políticas públicas focadas na habitação propostas pelo governo.

Neste artigo, revisitamos os acontecimentos e os indicadores que marcaram a primeira metade do ano.

 

Contexto económico favorável e crédito mais acessível

O abrandamento da inflação, estimada em 2,3% para 2025 pelo Banco de Portugal, foi um fator-chave para a melhoria do acesso ao crédito. Este abrandamento permitiu ao Banco Central Europeu estabilizar e até reduzir gradualmente as taxas de juro, o que teve um impacto direto na vida das famílias. Em abril, a taxa de juro média para novos créditos à habitação desceu para 3,06%, o valor mais baixo desde dezembro de 2022.

Esta conjuntura impulsionou a confiança dos consumidores e fomentou a procura por crédito imobiliário. Os bancos relataram um aumento nos pedidos de crédito para compra de casa, com critérios de concessão estáveis e spreads ligeiramente mais baixos – sinais de uma concorrência mais ativa entre instituições bancárias.

 

Atividade e preços em alta: 2025 com arranque enérgico

De acordo com os dados da Confidencial Imobiliário, no primeiro trimestre de 2025 foram transacionadas 40.750 habitações em Portugal Continental – um número que confirma a resiliência do setor, apesar de uma ligeira quebra de 5,4% face ao trimestre anterior. Esta estabilização contrasta com o crescimento acelerado registado noutros períodos, mas reforça a noção de que o mercado se encontra num ciclo maduro e consistente.

No início do ano, o preço médio de venda das casas continuou a subir, atingindo os 2.701 euros por metro quadrado. A construção também deu sinais otimistas: 6.700 novas habitações foram concluídas (+18,4% face ao ano anterior) e foram emitidas 10.200 licenças de construção (+36%).

 

Instabilidade económica internacional

As tarifas alfandegárias anunciadas pelo governo norte-americano tiveram impactos a nível global, afetando a confiança dos mercados e as previsões económicas. A instabilidade e imprevisibilidade levaram vários investidores estrangeiros a adotar uma postura mais cautelosa. Ainda assim, os investidores estrangeiros continuaram a manifestar interesse no mercado imobiliário nacional: de acordo com dados do Idealista, no início de 2025, os compradores internacionais representaram 27% da procura de imóveis de luxo em Portugal.

Este interesse persiste apesar (ou até por causa) da incerteza gerada pela guerra comercial do governo de Donald Trump, que levou muitos investidores a procurar ativos seguros fora dos seus países de origem. Um relatório de tendências da Coldwell Banker Global Luxury, publicado no início do ano, destaca Lisboa como um dos destinos mais atrativos do mundo para o investimento internacional no imobiliário de luxo, devido ao equilíbrio excecional entre custo e valorização do investimento. Também a segurança, infraestruturas, clima e estabilidade desempenham um papel na captação de investidores. 

 

Novo governo, políticas para habitação e lei dos solos

A tomada de posse do novo governo, em abril, trouxe consigo um programa renovado que, apesar da continuidade política, introduziu novas medidas para reforçar a oferta habitacional. Entre estas estão a aplicação de IVA reduzido (6%) na construção e reabilitação, o lançamento de um plano para construir 59 mil habitações públicas e o estímulo a parcerias público-privadas para reabilitação de imóveis devolutos.

Nesta primeira metade do ano, também se destacam as alterações à Lei dos Solos, que tornaram possível reclassificação de terrenos rústicos para urbanos, permitindo a construção. Esta medida visa aumentar a oferta habitacional em zonas com escassez de solo urbano e prometeu impactar diretamente o setor.  

A conjugação destas medidas com o aumento da construção de novas habitações, novas licenças de construção e a estabilidade nas transações dá expectativas ao setor de um possível alinhamento mais sustentável entre a oferta e a procura.

 

Turismo e investimento direto estrangeiro

O turismo, importante porta de entrada para investidores internacionais conhecerem o país, manteve níveis de atividade positivos. O primeiro mês do ano acolheu 1,6 milhões de hóspedes (+8,3% do que o período homólogo de 2025) e registou um crescimento de 6,3% nas dormidas. Já no primeiro trimestre, o número de hóspedes alcançou os 5,7 milhões, com quase 70% das dormidas a serem protagonizadas por turistas estrangeiros. Este dinamismo reforça o investimento em segmentos como o alojamento local, hotéis e retalho turístico – áreas com impacto direto e indireto no mercado imobiliário nacional.

No sentido inverso, segundo o Banco de Portugal, o investimento direto estrangeiro na economia nacional registou uma queda de 1,1 mil milhões de euros no primeiro trimestre, um reflexo de uma postura mais cautelosa por parte dos investidores internacionais e a primeira vez que este indicador retrai desde a pandemia de covid-19. Ainda assim, o setor imobiliário manteve-se como uma das principais fontes de investimento no país: nos três primeiros meses do ano, o investimento direto estrangeiro em imóveis portugueses atingiu 964,7 milhões de euros, um crescimento de cerca de 45% em relação ao período homólogo de 2024.

O primeiro semestre de 2025 confirmou a resiliência do imobiliário português, mesmo num contexto de instabilidade internacional e indefinição política. Com preços em crescimento, maior facilidade no acesso ao crédito e um ambiente legislativo mais propício à construção, o setor parece preparado para encarar os desafios e oportunidades do segundo semestre com confiança.