Investimento na reabilitação atingiu os 5000 milhões em três anos

O dinamismo do mercado imobiliário, que nem a pandemia travou, contribuiu para fazer disparar as obras de reabilitação urbana e manutenção dos edifícios habitacionais.

A elevada procura de casas e a tomada de consciência das deficiências nas habitações, impulsionada pelos confinamentos provocados pela pandemia, fez disparar as obras de reabilitação urbana e de manutenção. Nos últimos três anos, o investimento acumulado na recuperação e conservação de edifícios habitacionais atingiu os 4933 milhões de euros, com a maior verba a ser alocada entre 2020 e 2021, quando se alcançaram os 3451 milhões de euros, revela a AICCOPN (a associação do setor da construção).

Neste período, a atividade registou sucessivos crescimentos em resultado do dinamismo do mercado imobiliário, do incremento dos níveis de procura de obras de conservação ou renovação das habitações e pelo facto do setor da construção se ter mantido sempre em atividade, justifica Reis Campos, presidente da AICCOPN.

Apesar do elevado volume de investimento, o estado do parque habitacional português carece ainda de intervenções estimadas em mais de 24 mil milhões de euros. O país tem cerca de 1,5 milhões de fogos com necessidades de conservação, ou seja, 26,3% do parque habitacional, dos quais perto de 212 mil necessitam de intervenções grandes ou muito grandes dado o seu elevado estado de degradação.

Muito por fazer
De acordo com um estudo elaborado para a AICCOPN pela Faculdade de Engenharia do Porto, estima-se que só para recuperar o edificado muito deteriorado serão necessários mais de sete mil milhões, a que se somam 9300 milhões para reparações de grandes dimensões e mais 7500 milhões para intervenções médias. Mas o estado das casas dos portugueses ainda exige outros 14 mil milhões para operações de conservação, manutenção e pequenas reparações, aponta o relatório, que data de 2018, mas que se mantém atual.

Como realça Reis Campos, o país registou significativos avanços na área da reabilitação, mas a degradação, a sobrelotação, as carências de infraestruturas básicas e energéticas e a falta de acessibilidades “são ainda uma realidade com uma expressão quantitativa muito elevada, não são assuntos marginais”. Se existem mais de 200 mil casas em estado ruinoso, há a contabilizar “450 mil habitações sobrelotadas, incluindo 100 mil com duas ou mais divisões em falta e 467 mil famílias a viver nestas condições”, frisa o responsável. E numa altura em que a eficiência energética está na ordem do dia, estima-se que em Portugal existam cerca de 560 mil casas sem aquecimento.

Oportunidades
Como observa também João Carvalho, co-fundador da Melom, empresa especializada em obras residenciais, “o nosso parque habitacional, além de envelhecido, apresenta problemas crónicos de desconforto térmico e acústico e tem muitíssimo que evoluir em termos de consumos energéticos e diminuição de pegada carbónica”.

Neste quadro habitacional, há negócios que florescem. Como sublinha João Carvalho, “o setor de obras, reparação e beneficiação de imóveis representa uma gigantesca oportunidade”. No ano passado, as 515 empresas da rede de franchising Melom e Querido Mudei a Casa Obras geraram uma faturação da ordem dos 40 milhões de euros, um crescimento de 31,1% face a 2020. Segundo o responsável, esta performance deve-se à pandemia, que “colocou o setor de obras e beneficiação de imóveis no radar de investidores” e “funcionou como catalisador ao contribuir para uma diferente perceção da casa”.

Remodelação geral
O número de pedidos de obra cresceu 132% face a 2020 e os orçamentos aumentaram 218%. Pela primeira vez, a intervenção mais realizada foi a remodelação geral, que integra substituição de rede de águas, esgotos, eletricidade, gás, revestimentos e equipamentos, com um valor médio próximo dos 30 mil euros por obra, e que representou 86% do volume de faturação da rede.

Para Reis Campos, o investimento na recuperação urbana e a conservação do parque residencial apresenta-se também como uma solução para a criação de oferta de habitação acessível. Na sua opinião, “não é possível prever soluções de habitação a preços acessíveis [seja ao nível do arrendamento ou da aquisição] que não contemplem especificamente estes domínios”.

O líder associativo lembra ainda que “a reabilitação urbana tem de ser atrativa para os investidores” e, para isso”, é necessário ajustar os incentivos fiscais e os mecanismos de apoio ao financiamento de forma que este objetivo possa ganhar escala e abrangência territorial”, pois até agora esteve muito focada em Lisboa e Porto.

Principais entraves
Nesta matéria, o presidente da AICCOPN defende que a dinamização do investimento por via dos vistos gold, cuja atribuição por compra de imóveis residenciais está agora focada nas regiões do interior do país, carece da introdução de “melhorias e incentivos” nos territórios de baixa densidade.

Como destaca, “impostos como o AIMI, o IMI que reverte para o Estado, ou a tributação dos stocks de casas detidas para venda por parte das empresas do setor, são exemplos de um enquadramento fiscal que penaliza todo o investimento, mas que se torna ainda mais prejudicial em territórios como o interior, onde existe um mercado imobiliário menos dinâmico e, consequentemente, as empresas, os investidores e as famílias são mais afetadas”.

Fonte: dinheirovivo.pt

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