Setor do imobiliário resiste à crise

Apesar dos grandes desafios dos últimos anos, o mercado tem conseguido manter algum dinamismo e apresentou um crescimento sustentado em 2021.

Os últimos anos fizeram-se de grandes desafios na economia em geral e no setor imobiliário em particular. Uma realidade que se tornou ainda mais evidente em 2020 e 2021, fruto de uma pandemia que não deu tréguas e obrigou os países a repensarem o normal decurso da sua atividade diária. Ainda assim, em termos gerais, vários especialistas apontam 2021 como um bom ano, com o mercado a regressar ao crescimento ao nível das transações, ultrapassando o decréscimo que teve em 2020.

Segundo dados apresentados por Manuel Reis Campos, presidente da Confederação Portuguesa da Construção e do Imobiliário (CPCI) e da Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas (AICCOPN), no ano passado, o investimento total em imobiliário atingiu os 31,1 mil milhões de euros, dos quais, 4,7 mil milhões com origem externa, “montantes estes que assumem uma grande relevância”. Assim sendo, Portugal terminou o ano de 2021 “com um crescimento homólogo de 13,3% no número de fogos novos licenciados” e os últimos dados disponíveis, relativos ao primeiro trimestre do ano, “apontam para um aumento de 8%, face ao trimestre homólogo de 2021”.

O mesmo responsável considera que “este é um setor determinante para a recuperação da economia, quer ao nível do investimento público, quer do investimento privado”. Assim sendo, e no que diz respeito ao investimento em habitação, espera-se “que a trajetória positiva a que temos vindo a assistir continue a sua consolidação”.

Contas feitas, o mercado tem-se mostrado, ainda assim, altamente resiliente tendo como consequência o incremento do seu valor global e assumindo-se, ao mesmo tempo, como uma espécie de refúgio a muitas famílias na colocação e salvaguarda das suas poupanças. A verdade é que o investimento em imóveis continua ainda a ser considerado um bom negócio por muitos.

O que traz 2022?

Em 2022, vão existir certamente outros obstáculos, diferentes, mas igualmente desafiantes, aos quais será necessário dar resposta cabal.

Um dos primeiros desde logo diz respeito ao preço das casas, que sofre agora uma maior pressão não só em Portugal como um pouco por toda a Europa. Depois de, em 2021, se ter verificado uma valorização na casa dos 13,8% (segundo um estudo da base de dados Confidencial Imobiliário), a verdade é que 2022 não será diferente: a Grande Lisboa vai continuar a ser a zona mais procurada (35% das propriedades vendidas), seguida pela Área Metropolitana do Porto (17%), mas a pressão dos preços far-se-á sentir também fora dos grandes centros urbanos e em zonas habitualmente mais acessíveis. Entre as tipologias mais procuradas, o destaque vai para os T2 e T3 que somam quase 80% dos fogos vendidos.

Por seu turno, Manuel Reis Campos lembra outro tipo de problemas a ter em conta: “Os constrangimentos que estamos a enfrentar, designadamente o problema da falta de mão de obra, em que, recordo, está identificada a necessidade de 80 mil trabalhadores no setor, e, com particular impacto neste momento, a anómala subida dos preços das matérias-primas, da energia e dos materiais de construção.” De resto, esta problemática foi objeto de uma apresentação ao novo Governo, com a sugestão “de um pacote de medidas extraordinárias essenciais e prioritárias” a ter em conta. A verdade é que Manuel Reis Campos defende que esta realidade “não pode pôr em causa uma estratégia de recuperação económica que, não só em Portugal, mas à escala europeia, consagra um papel central a este setor”.

O presidente da AICCOPN considera que “o PRR é, sem qualquer dúvida, importante para o setor e para a habitação”, mas, ainda assim, “o envolvimento do investimento privado é essencial para ganharmos a escala que é necessária para dar uma resposta efetiva à generalidade da população”. Assim sendo, apoiar programas de financiamento, a exemplo do que se passa na restante Europa, “que permitem mobilizar investidores privados, eliminar impostos excessivos e profundamente penalizadores como o AIMI, o IMI que reverte para o Estado, assegurar o posicionamento competitivo do investimento imobiliário no plano internacional, são alguns exemplos de medidas que têm de complementar este investimento que está previsto no PRR”.

Fonte: jornaldenegocios.pt

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